Limousine

"Tem um trocado?" Seus olhos eram mais claros do que costumavam ser os dos outros mendigos, em geral amarelos como gemas de ovo.
Nick deu-lhe um dólar e perguntou se queria um cigarro.
"Vai bem, mermão." Nick deu-lhe o resto do maço.
"Tem fogo?" Nick deu-lhe o isqueiro descartável. Os capuccinos chegaram. Ele seguiu para a escada rolante que levava ao saguão, onde pegaria o elevador. O sem-teto o acompanhou. Nick não pretendia estender a conversa, nem fazer um novo amigo. Como católico relapso, contudo, nunca tinha certeza absoluta, mesmo sabendo que era tudo papo furado, de que um sujeito assim não poderia ser Cristo disfarçado a conferir quem fazia caridade aos menos afortunados e quem não fazia.



[ Christopher Buckley | Obrigado por Fumar ]

Malogrou

-Vamos sair.
-Quereis sair?
-Sim. Acompanha-me.
-Preferiria dormir.
-Dormes demais. Começas a ficar barrigudo. Como é triste envelhecer!
-Oh! prefiro estar na minha pele a estar na vossa. O que me fortalece a alma - disse ele sorrindo - é saber que jamais me será possível ser tão infeliz quanto o sois.



[ Simone de Beauvoir | Todos os Homens são Mortais ]
Sorri-lhe; eu sabia imitar muito bem os sorrisos deles.



[ Simone de Beauvoir | Todos os Homens são Mortais ]
Fixou novamente os olhos no livro. Eles nunca pareciam suspeitar que sua espécie era mortal; no entanto, bastava um choque, uma queda: uma roda de carruagem que se solta, um casco de cavalo, e seus ossos quebradiços partiam-se em pedaços, o coração deixava de bater, estavam mortos para sempre.



[ Simone de Beauvoir | Todos os Homens são Mortais ]

Tu me esquecerás

E depois? Outra mulher virá socorrer-te?



[ Simone de Beauvoir | Todos os Homens são Mortais ]